O senso comum da bruxaria moderna,
infelizmente, acredita numa ruptura total e absoluta das práticas pagãs com o
advento da hegemonia do cristianismo romano. Ruptura esta, por sua vez, que
culminaria na perda total das práticas mágicas do mundo politeísta, as quais só
teriam ressurgimento possível com a Wicca de Gardner e outras vertentes
neopagãs que vieram a florescer após o século XIX, entretanto, as tradições
folclóricas e ancestrais demonstram – e são amparadas pela pesquisa acadêmica –
que este não é o caso. O processo europeu de transição entre o politeísmo e o
monoteísmo cristão foi, em muitos locais, um processo carregado de nuances, de
readaptações e da ressignificação de práticas que se mantiveram preservadas, se
não em magnitude e esplendor, ao menos em pragmatismo e essência, sob uma
roupagem cristianizada.
Um destes exemplos – e que é o meu favorito, tanto por estar intimamente ligado à história de meus antepassados quanto por dizer respeito à minha principal divindade de culto – é o festival de Diana Nemorensis (Diana Trivia) e sua subsequente transformação nas festas católicas de Santo Hipólito e da Assunção da Virgem Maria.
Diana e seu cão - Autor desconhecido, c.1720. |