sábado, 2 de maio de 2020

Comentário sobre o Culto aos Ancestrais


Esta pequena publicação se trata da minha visão sobre o tema, construída com influências da minha linhagem e da tradição que eu faço parte, mas ainda assim é uma visão pessoal.


Muita gente reproduz um discurso de temor àqueles que já se foram. É ensinado em algumas religiões que não é saudável cultuar espíritos de familiares mortos dentro de casa, e há pessoas que assimilam isso sem ser destas religiões, como se fosse uma regra geral da existência.

Pois bem, eu discordo radicalmente dessa visão, e eis o porquê.


Os ancestrais são a matéria que gerou nosso corpo. Somos a continuidade física, mental, e espiritual deles. Esta continuidade é vista em meu caminho como uma árvore de sangue e espírito, crescendo pelo tempo e pelo espaço (ou mesmo um rio de sangue fluindo por ele). O mais lógico é que os indivíduos que formam essa árvore desejem nosso bem estar, nosso crescimento, e a perpetuação do legado deles através de nós. Afinal, quando damos um passo para trás ao encarar os desdobramentos da vida percebemos que somos todos um único ser.


Imagem: Around the Tree - Glenn Brady.

Não existe uma explicação razoável para assumir que depois de mortos, os ancestrais passariam a nos fazer mal, deliberadamente.


Alguns mortos podem ter algo contra seus descendentes, ou desequilíbrios que os levem a causar danos, e é por isso que um culto à linhagem como um todo é essencial, pois é impossível que numa linhagem inteira não exista uma única alma que deseje o bem de seus descendentes e tenha força para trabalhar por isso, incluindo harmonizar o contato do indivíduo com os demais antepassados. O intermédio de divindades e mentores ligados à ancestralidade também é um filtro de segurança muito indicado.

Não apenas os espíritos dos antepassados são aliados importantes, mas também o é a força que reside nesta própria árvore de sangue, formada por todos os que vieram antes de você e por todos os que virão depois. O passado e o futuro unidos num ponto focal do presente: você.


Ao cultuar seus ancestrais, aqueles que desejam seu bem, e que via-de-regra são maioria, passarão a abençoá-lo, não apenas através dos seus espíritos, mas através de sua própria memória ancestral, contida tanto em seu corpo quanto em sua alma (ela é algo complexo que renderá um texto mais elaborado no futuro, com certeza). Lembrar de suas histórias e suas raízes é uma forma de honrá-los. Cultuá-los é uma linha de defesa, uma fonte de poder, uma fonte de conhecimento e de integridade, uma porta de acesso aos dons hereditários e a uma série de conexões espirituais valorosas.

Não abandone sua ancestralidade porque alguém disse que é errado ou perigoso cultuá-la. Com responsabilidade, estudo e bom senso, ela pode ser sua mais íntima fonte de poder, e uma forma de ajudar a memória da própria humanidade a continuar viva neste mundo!



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