Esta pequena publicação se trata da minha visão sobre o tema,
construída com influências da minha linhagem e da tradição que eu faço parte,
mas ainda assim é uma visão pessoal.
Muita gente reproduz um discurso de temor àqueles que já se
foram. É ensinado em algumas religiões que não é saudável cultuar espíritos de
familiares mortos dentro de casa, e há pessoas que assimilam isso sem ser destas religiões,
como se fosse uma regra geral da existência.
Pois bem, eu discordo radicalmente dessa visão, e
eis o porquê.
Os ancestrais são a matéria que gerou nosso corpo.
Somos a continuidade física, mental, e espiritual deles. Esta continuidade é vista em meu caminho como uma árvore
de sangue e espírito, crescendo pelo tempo e pelo espaço (ou mesmo um rio de
sangue fluindo por ele). O mais lógico é que os indivíduos que formam essa árvore desejem nosso bem estar,
nosso crescimento, e a perpetuação do legado deles através de nós. Afinal, quando damos um passo para trás ao encarar os desdobramentos da vida percebemos que somos todos um único ser.
Imagem: Around the Tree - Glenn Brady.
Não existe uma explicação razoável para assumir que
depois de mortos, os ancestrais passariam a nos fazer mal, deliberadamente.
Alguns mortos podem ter algo contra seus descendentes,
ou desequilíbrios que os levem a causar danos, e é por isso que um culto à
linhagem como um todo é essencial, pois é impossível que numa linhagem inteira
não exista uma única alma que deseje o bem de seus descendentes e tenha força
para trabalhar por isso, incluindo harmonizar o contato do indivíduo com os
demais antepassados. O intermédio de divindades e mentores ligados à
ancestralidade também é um filtro de segurança muito indicado.
Não apenas os espíritos dos antepassados são aliados importantes, mas também o é a força que reside nesta própria árvore de sangue, formada por todos os que vieram antes de você e por todos os que virão depois. O passado e o futuro unidos num ponto focal do presente: você.
Ao cultuar seus ancestrais, aqueles que desejam seu
bem, e que via-de-regra são maioria, passarão a abençoá-lo, não apenas através dos seus espíritos, mas através de sua própria memória ancestral, contida tanto em seu corpo quanto em sua alma (ela é algo complexo que renderá um texto mais elaborado no futuro, com certeza). Lembrar de suas
histórias e suas raízes é uma forma de honrá-los. Cultuá-los é uma linha de
defesa, uma fonte de poder, uma fonte de conhecimento e de integridade, uma
porta de acesso aos dons hereditários e a uma série de conexões espirituais
valorosas.
Não abandone sua ancestralidade porque alguém disse
que é errado ou perigoso cultuá-la. Com responsabilidade, estudo e bom senso,
ela pode ser sua mais íntima fonte de poder, e uma forma de ajudar a memória da
própria humanidade a continuar viva neste mundo!
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