Existem várias definições possíveis
para o que vem a ser um círculo de bruxos. Naquela que consideramos mais
próxima de nossos valores, um círculo é um grupo de pessoas reunidas para praticar
uma tradição de bruxaria sem que mais do que uma delas – no caso o/a dirigente –
seja iniciada. Atuando um pouco como escola e um pouco como irmandade ou rede
de apoio, um círculo funciona como uma semente para aquilo que pode vir a ser
uma congrega, um grupo de pessoas iniciadas de uma mesma linhagem ou
tradição de bruxaria.
Há muitos anos eu vinha me
preocupando com a sobrevivência de minha tradição familiar no caso de futuras
gerações de minha família não conservarem o interesse em carregá-la adiante – o
que dada a cultura do tempo em que vivemos é uma infeliz possibilidade. Entretanto,
abrir a tradição integralmente para terceiros não era uma opção por
vários motivos que eu enumerei nesse outro texto. Como o destino normalmente
faz, a Fortuna se encarregou de providenciar uma solução, e pessoas chegaram
até mim com a disposição de aprender e – em alguns casos – com uma ancestralidade
bruxa própria que precisava de meios para voltar a se manifestar neste mundo.
Após muitas consultas e
deliberações, concluí que seria útil para algumas das pessoas próximas que me
buscaram e para eu mesmo estabelecer a fundação de um Círculo para a instrução
e iniciação em minha linhagem de bruxaria. Com “instrução e iniciação”, quero
dizer o aprendizado e o recebimento iniciático de tudo que não é restrito a uma
única transmissão a cada geração, pois existem alguns laços, objetos e saberes,
que eu só poderei passar adiante uma única vez em minha vida, para a pessoa que
irá me suceder como receptáculo completo de nossa tradição. Aqueles que
receberem a iniciação principal de nossa linhagem, contudo, serão como novos
ramos surgindo de nossa árvore, inaugurando linhagens tradicionais que carregam
não apenas a minha ancestralidade bruxa, mas a sua própria linhagem ancestral.
Pode-se dizer que através do Círculo Stella Maris, nossa tradição está procriando
– ou melhor, se ramificando, de modo a permanecer viva por meio de seus
diferentes ramos, todos conectados ao ramo original.
Há ainda muito trabalho a ser
feito, já que diferentemente do que acontece em outros caminhos a passagem dos
conhecimentos de nossa tradição precisa ser orgânica e vivenciada ao longo de
um período que pode levar mais ou menos tempo, a depender de cada pessoa e seu
contexto. Mesmo sendo a iniciação um processo simples de ser feito, o
conhecimento demora tempo para se construir e se consolidar, e iniciação sem
conhecimento teórico e prático para instrumentalizá-la é algo pouco útil.
Faço essa publicação para
marcar formalmente o início dos trabalhos do Círculo Stella Maris – que foi
gestado ao longo do ano de 2023 e teve seu início no solstício de verão do
mesmo ano – e para desejar aos seus membros uma bona fortuna, muito
sucesso, e que a Estrela do Mar os guie por caminhos de grande sabedoria e
realização!
Nostra forza è la verità
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