quarta-feira, 9 de novembro de 2022

PETIT LENORMAND: Do jogo da esperança ao baralho cigano

Por: Lucas de Yemọjá (Omíwálé)
Cartomante, umbandista e professor do método tradicional europeu de leitura do Petit Lenormand.




Originado do protótipo alemão – “Jogo da Esperança” de Johan Kaspar Hechtel – datado do final do século XVIII, o “Petit Lenormand” ou “Baralho Cigano” é exemplo cristalino da lógica mercantil aplicada à espiritualidade e suas variadas ferramentas. A tradição que permeia uma linhagem ancestral está fadada às adaptações e ressignificações decorrentes da necessidade de sobrevivência no tempo-espaço, especialmente no que tange ao mundo globalizado.

FASCINAÇÃO E EROS

 Texto originalmente publicado na antiga página do Facebook em 13 de março de 2021


Liebeszauber (Magia de Amor) – Autor desconhecido (Séc. XV).

"A possibilidade mágica de fascinar e de ser fascinado encontra terreno eletivo na vida erótica: só que enquanto os esconjuros contra o malocchio (mau olhado) e a inveja tentam instituir uma defesa contra a energia maligna que assedia as pessoas e seus bens, os encantamentos de amor são geralmente empregados para amarrar quem se ama com um laço invisível e irresistível.

NEOXAMANISMO E APROPRIAÇÃO CULTURAL

Por: Lucas de Yemọjá (Omíwálé)
Iniciado no Druidismo por Rowena A. Seneween.
 



Caldeirão de Gundestrup.

Entre a gama de sendas religiosas que se fundamentam no culto ancestral, está o que John Matthews classificou por “disciplina espiritual” mais antiga do mundo: o Xamanismo. Apesar das controvérsias, cabe frisar que a expressão “xamã”, ainda que tenha sido amplamente generalizada em âmbito acadêmico, possui origem siberiana. O historiador das religiões Mircea Eliade foi, sem dúvida alguma, o maior responsável pela disseminação do conceito que viria a agrupar diferentes práticas alocadas no tempo-espaço sob o mesmo epíteto (o xamânico!). Isto é, estabeleceu um amplo comparativo entre religiosidades que se fundamentavam (e ainda se fundamentam) em pilares comuns, tais como: animismo, totemismo, politeísmo, culto aos ancestrais e, por fim, as mais variadas “técnicas arcaicas do êxtase” – entre as quais se vislumbram o “voo da alma” e os distintos modos de transe mediúnico.

LAR: Breve comentário sobre uma das dimensões da ancestralidade


Interior with woman cooking over open fire - Julius Schrag.
  

Texto originalmente publicado por Draco Stellamare e Lucas Omíwálé na antiga página do Facebook em 01 de março de 2021.

Já mencionamos que a Ancestralidade existe em mais dimensões do que o culto aos antepassados propriamente dito, constituindo um conglomerado de forças ancestrais que atravessa gerações e inclui, junto aos mortos, os seres não-humanos e algumas forças divinizadas. Vamos então falar um pouquinho de uma dessas perspectivas?

sexta-feira, 23 de setembro de 2022

IL MALOCCHIO: O Mau-Olhado



O nazar, ou olho grego.


A preocupação com os efeitos do mau sentimento alheio sobre os bens pessoais, a saúde e a plenitude da vida é uma constante nas sociedades humanas. Desde muito cedo a humanidade aprendeu que os olhos funcionam como um maravilhoso veículo de significados e forças espirituais. O olhar é a forma pela qual a maioria dos seres humanos coloca significado nas coisas, assimila o mundo ao seu redor e se comunica. A sinceridade é muitas vezes relacionada ao olhar direto de olho para olho, assim como a vergonha muitas vezes causa a reação de desviar o olhar da face do interlocutor.

É fato, há qualquer coisa na expressividade dos olhos que pode atingir firmemente o outro, senão de forma física e direta ao menos psicologicamente através da emoção que ele transmite.

sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Sobre o processo de aprender com os espíritos (Parte 2): as armadilhas e os perigos de uma conexão improvisada



Pintura de Hyeronimus Bosch (1453 - )

Se uma das principais dificuldades no contato com o mundo espiritual é discernir a mensagem transmitida das expectativas do receptor, um outro problema tão grave quanto este é reconhecer quem é esse emissor, e quais são as suas reais intenções.

Certa vez ouvi de um praticante de magia muito admirável que o mundo espiritual é uma verdadeira selva, e que não havia muita diferença entre realizar um ritual para contatar seres espirituais sem ter o preparo adequado, achando que eles serão amistosos e prestativos graças a uma visualização de proteção qualquer, e perambular pela Cracolândia buscando fazer amizades construtivas confiando que as suas vibrações positivas o manterão a salvo. Na época lembro de ter pensado que o meu colega estava exagerando e que, por mais que a cena da magia tivesse seus riscos e seus praticantes incautos, uma parte considerável da comunidade sabia o que estava fazendo.

Eu estava errado.

Muito errado.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Sobre o processo de aprender com os espíritos (Parte 1): um confronto entre o passado e o presente, entre o real e o ilusório.

 


Arnold Boecklin - Autorretrato, 1872.

Falar da magia folclórica de origem europeia no Brasil às vezes parece ser uma frequente cirurgia para remover corpos estranhos de um paciente que respira por aparelhos.